Por que os pombos são tão odiados?

Os pombos urbanos, frequentemente considerados os animais mais detestados do planeta, são vistos como sujos e transmissores de doenças, além de serem comparados a “ratos voadores”. Essa imagem negativa, no entanto, não foi sempre a realidade para essas aves.

Historicamente, os pombos foram admirados e respeitados em diversas culturas. Durante milênios, eles desempenharam papéis significativos, sendo reverenciados por figuras proeminentes como o imperador mongol Akbar, o Grande, que os considerava símbolos de amor e lealdade, e Charles Darwin, que estudou sua domesticidade e evolução. As aves eram valorizadas por suas habilidades de navegação e foram utilizadas em comunicação, transporte e até mesmo em cerimônias religiosas.

 

Pombos, são pragas urbanas aladas?

Os pombos urbanos que vemos hoje são descendentes de aves domesticadas que desenvolveram uma impressionante confiança nos seres humanos. Eles se sentem atraídos por áreas com alta densidade populacional, onde podem encontrar abrigo e alimento facilmente. Nas cidades, é comum vê-los caminhando pelas calçadas, aninhando-se em recantos das construções e se alimentando de restos de comida deixados por transeuntes. Essa convivência próxima, em teoria, deveria fomentar uma relação amigável entre humanos e pombos.

No entanto, essa interação é marcada por um contraste significativo. Apesar da sua proximidade, os pombos frequentemente enfrentam hostilidade e desprezo. Muitas pessoas os veem como pragas, levando a atitudes de rejeição, como tentar afugentá-los ou, em alguns casos, maltratá-los. Essa aversão é alimentada por preocupações com a saúde pública, já que os pombos podem ser portadores de doenças e seus excrementos podem causar danos a edifícios e monumentos.

Além disso, os pombos são frequentemente associados a problemas de superpopulação em áreas urbanas, onde sua presença em grandes grupos pode gerar desconforto e irritação. Assim, a visão negativa que muitos têm deles persiste, mesmo que a história e a biologia dessas aves revelem uma relação muito mais complexa com a humanidade.

Essa dualidade entre admiração histórica e aversão contemporânea levanta questões sobre como as interações humanas com a fauna urbana evoluem e sobre a necessidade de abordagens mais empáticas e respeitosas em relação a essas criaturas que, de alguma forma, são parte integrante do nosso ambiente.

Paul Themis, co fundador do grupo London Pigeon String Foot and Rescue, tem se dedicado, ao longo de 17 anos, a ajudar os pombos que habitam a cidade. Ele afirma que muitas das crenças negativas sobre essas aves são, na verdade, mitos infundados na cultura popular.

Estudos científicos têm revelado que os pombos são aves notavelmente inteligentes. Eles não apenas conseguem reconhecer indivíduos humanos, mas também têm a capacidade de recordar direções e rotas por anos a fio. Além disso, pesquisas indicam que eles podem entender conceitos abstratos, como espaço e tempo, o que demonstra uma complexidade cognitiva que frequentemente é subestimada.

 

 

 

Um dos mitos mais persistentes sobre os pombos é a ideia de que eles são portadores de doenças perigosas. Contudo, essa acusação é bastante exagerada. Os pombos possuem uma resistência notável à gripe aviária e, embora possam transmitir algumas doenças, as infecções em humanos são relativamente raras. Entre 1941 e 2004, foram registrados apenas 207 casos de patógenos transmitidos de pombos para humanos no mundo todo, resultando em apenas 13 mortes, o que sugere que o risco é muito menor do que se acredita.

Nadira Faber, professora de psicologia na Universidade de Bremen, acrescenta que as atitudes desfavoráveis em relação aos pombos podem ser interpretadas como uma forma de especismo. Essa discriminação se baseia na ideia de que algumas espécies são moralmente superiores a outras. Curiosamente, ao longo da história, os pombos foram frequentemente associados a significados positivos, como amor, fertilidade e beleza celestial, sendo celebrados em várias culturas.

Apesar do preconceito disseminado, grupos como o London Pigeon String Foot and Rescue desempenham um papel vital na proteção dos pombos urbanos. Esses voluntários dedicam-se a cuidar das aves que apresentam ferimentos, como patas mutiladas, e realizam resgates de pombos feridos. O trabalho deles não é apenas uma questão de compaixão; é também uma tentativa de mudar a narrativa em torno dessas aves, educando o público sobre sua biologia e comportamento.

Esses voluntários frequentemente enfrentam reações variadas do público. Enquanto alguns observadores demonstram curiosidade e apoio, outros reagem com hostilidade ou desdém. Apesar das dificuldades, eles permanecem firmes em sua missão de proteger e cuidar das aves, promovendo uma visão mais empática e informada sobre os pombos. Através de suas ações, esses grupos buscam não apenas salvar vidas, mas também mudar a percepção pública, mostrando que esses seres são dignos de respeito e cuidado, em vez de serem vistos como pragas urbanas.

 

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