A descoberta centenária que pode revolucionar os esforços para ressuscitar o Tigre-da-Tasmânia, ou tilacino, ocorreu quando pesquisadores do Museu de Melbourne vasculhavam um armário de armazenagem. Durante suas investigações, eles encontraram uma série de espécimes preservados que estavam esquecidos há mais de 110 anos.
Esses espécimes incluem amostras de DNA que poderiam ser cruciais para os esforços de desextinção. Com o avanço das tecnologias de sequenciamento genético e edição de genes, os cientistas estão agora explorando a possibilidade de usar esse material genético para trazer o tilacino de volta à vida.
Os pesquisadores acreditam que, com a combinação das amostras antigas e técnicas modernas, como a CRISPR, é viável reverter os danos causados pela extinção. Além disso, o conhecimento sobre o ecossistema do tilacino e sua interação com outras espécies também é um fator importante, pois a reintrodução da espécie deve ser feita de forma cuidadosa, levando em conta o equilíbrio ecológico.
Esse achado não só reacendeu a esperança para a recuperação do tilacino, mas também levantou questões éticas e práticas sobre a desextinção e as implicações de trazer de volta espécies que desapareceram há muito tempo. O debate sobre a responsabilidade humana em preservar a biodiversidade também se intensifica com essa descoberta, destacando a importância de proteger as espécies que ainda existem.
O que é o Tigre da Tasmânia?
Você já deve ter ouvido falar do Tigre da Tasmânia antes, embora ele tenha sido visto pela última vez em cativeiro em 1936 e declarado extinto em 1986, após 50 anos sem avistamentos.
Com aparência de cachorro e listras de tigre na parte inferior das costas, o animal foi o único predador marsupial da Austrália que viveu em todo o continente, ficando restrito à Tasmânia há cerca de 3.000 anos.
Quem está por trás do projeto para trazê-los de volta à vida?
O projeto científico para trazer de volta o tilacino está sendo liderado pela empresa americana de biotecnologia “desextinção e preservação de espécies” Colossal, que também tem como objetivo usar técnicas de engenharia genética para trazer de volta as espécies extintas do mamute lanoso e do dodô.
De propriedade do empreendedor de tecnologia e software Ben Lamm, a empresa arrecadou US$ 235 milhões (£ 180,7 milhões) e está financiando pesquisas em 13 laboratórios ao redor do mundo.
A descoberta da cabeça bem preservada do tigre-da-Tasmânia em um balde de etanol é um marco significativo na busca para trazer essa espécie extinta de volta à vida. O professor Andrew Pask, que lidera a pesquisa de restauração genética, enfatizou a importância do achado ao revelar que o espécime, embora estivesse em péssimas condições, continha material genético valioso, incluindo moléculas de RNA que os cientistas pensavam ter se perdido para sempre.
Esse RNA é crucial porque pode fornecer informações sobre a expressão gênica do tilacino, ajudando os pesquisadores a entender melhor suas características biológicas e como reverter os efeitos da extinção. O material encontrado permite um acesso sem precedentes ao genoma da espécie, fundamental para os esforços de desextinção que a Colossal e outros grupos estão realizando.
Além do aspecto técnico, a descoberta levanta questões sobre a conservação e a ética em trazer espécies extintas de volta ao ecossistema. A reintrodução do tigre-da-Tasmânia poderia ter impactos significativos em sua habitat original, equilibrando o ecossistema e contribuindo para a biodiversidade. No entanto, isso também exige uma consideração cuidadosa dos desafios associados, como a adaptação do animal ao ambiente contemporâneo, que pode ter mudado drasticamente desde sua extinção.
O fato de que o espécime foi encontrado de maneira tão inesperada também destaca a importância da preservação de coleções de museus e de como esses arquivos podem revelar segredos valiosos que, de outra forma, estariam perdidos. A pesquisa continua a avançar, e a equipe de Pask está otimista sobre as possibilidades que essa descoberta oferece, não apenas para o tigre-da-Tasmânia, mas também para a desextinção em geral.
A ciência por trás do retorno do tilacino tem avançado rapidamente, especialmente após a descoberta da cabeça preservada. O professor Andrew Pask destacou que, um ano após o achado, os pesquisadores conseguiram superar várias barreiras que antes pareciam intransponíveis. O progresso na restauração genética não só está mais avançado do que o esperado, mas também abriu novas perspectivas sobre o que é possível na desextinção.
Uma das descobertas mais significativas foi que o tecido mole encontrado continha longas sequências preservadas de DNA, o que é crucial para a reconstrução do genoma do tilacino. O DNA é a base da composição genética de qualquer ser vivo, enquanto o RNA, que também foi identificado, é fundamental para a expressão gênica. A estabilidade do RNA é geralmente menor, e ele pode variar entre diferentes tipos de tecido, o que torna essa descoberta ainda mais impressionante.
Com as informações obtidas, os cientistas conseguiram mapear características específicas do tilacino, como a estrutura dos olhos, nariz e língua. Isso permitiu que eles criassem uma imagem mais clara de como o animal percebia o mundo ao seu redor—quais sabores ele poderia saborear, como cheirava e como enxergava. Esse nível de detalhe é vital não apenas para a ressurreição do tilacino, mas também para entender seu comportamento e ecologia.
Pask também comentou sobre a importância de ter um genoma anotado, afirmando que essa é a primeira vez que um genoma de um animal extinto foi completamente documentado. Isso é crucial para garantir que o que está sendo trazido de volta seja realmente um tilacino e não um híbrido ou uma versão alterada geneticamente de outra espécie. Essa autenticidade é fundamental para os esforços de conservação e para a integridade do ecossistema onde o tilacino poderá ser reintroduzido.
Esses avanços científicos não apenas abrem portas para a ressuscitação do tigre-da-Tasmânia, mas também levantam questões mais amplas sobre a manipulação genética e as implicações éticas da desextinção, exigindo um diálogo cuidadoso entre cientistas, conservacionistas e a sociedade em geral.