12 de outubro: Dia do lobo-guará

Morte de animais evidencia a urgência da responsabilidade ambiental nas instituições financeiras

Um relatório da coligação holandesa Fair Bank Guide (Eerlijke Bankwijzer), que conta com a participação da Proteção Animal Mundial, expõe a alarmante realidade de que bancos holandeses têm injetado bilhões de dólares em empresas que fazem parte do influente “agrolobby”. Essa prática levanta questões sérias sobre o papel dessas instituições na promoção de práticas ambientais sustentáveis.

Data de Conscientização e O Lobo-Guará

O dia 12 de outubro, além de ser uma data celebrada pelo Dia das Crianças e pela padroeira do Brasil, marca também, há 22 anos, um momento crucial de reflexão sobre a preservação do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Este majestoso canídeo, o maior da América do Sul, está ameaçado e necessita de medidas urgentes de proteção. A recente tragédia envolvendo a morte de três lobos-guarás, que se afogaram em canais de irrigação da Fazenda Alto Jaborandi, na Bahia, torna ainda mais evidente a necessidade de fortalecer as legislações de proteção ambiental no país.

No entanto, enquanto a situação se agrava, o Senado Federal está prestes a votar o projeto de lei 2159/2021, conhecido como PL da Devastação. Este projeto tem como objetivo desmantelar a legislação geral de licenciamento ambiental para propriedades rurais, o que poderá ter consequências desastrosas para a fauna e flora do Brasil.

 

Lobo-Guará.

 

Situação da Fazenda Alto Jaborandi

De acordo com uma reportagem do Repórter Brasil, os canais de irrigação da Fazenda Alto Jaborandi não possuíam proteções adequadas, como barragens ou grades, que poderiam ter evitado a entrada dos lobos-guarás nas áreas perigosas. Essa falta de infraestrutura foi confirmada pela autoridade ambiental estadual, que multou a fazenda em decorrência das condições inadequadas.

O fazendeiro envolvido na tragédia tinha contratos de empréstimo com o BNDES, utilizando uma operação de “indireta automática”. Neste tipo de operação, a responsabilidade pela análise da regularidade ambiental do cliente recai sobre o banco que intermedeia a transação. No caso específico, o banco em questão é o Rabobank, que é conhecido por sua ligação estreita com o agronegócio.

 Compromissos Socioambientais e a Realidade

“Os bancos assumem compromissos socioambientais, declarando que implementarão ações para garantir que seus investimentos não causem danos ao meio ambiente. Embora o Rabobank afirme ter critérios rigorosos para assegurar o bem-estar animal, os fatos revelam uma realidade muito diferente. As mortes dos lobos-guarás são um símbolo contundente da desconexão entre o que é prometido e o que é praticado”, afirma Karina Ishida, coordenadora de Sistemas Alimentares na Proteção Animal Mundial.

Com mais de 80% dos empréstimos concedidos por bancos holandeses para empresas ligadas ao agrolobby, o Rabobank se destaca como um dos principais financiadores dessas práticas.

 

Entre carros e plantações, lobo-guará luta para sobreviver.

 

O Papel dos Bancos Holandeses no Agronegócio

Entre 2019 e 2023, os três principais bancos holandeses – Rabobank, ABN Amro e ING Group – financiaram 1,89 bilhão de dólares em empréstimos corporativos, participações acionárias e títulos para 18 empresas ativas no agrolobby brasileiro. Este dado foi revelado no relatório da Fair Bank Guide, que é apoiado por diversas organizações, incluindo Anistia Internacional e Oxfam Novib. O Rabobank, em particular, foi responsável por impressionantes 86% de todas as transações realizadas por instituições financeiras holandesas no Brasil durante esse período.

As 18 empresas listadas no relatório, como ADM, Bunge, Cargill e JBS, são parte integrante do Instituto Pensar Agro (IPA), uma entidade que, juntamente com a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) – comumente conhecida como bancada ruralista – tem atuado para enfraquecer a legislação socioambiental no Brasil. Essa atuação gera um ambiente propício à exploração e ao desrespeito das normas que visam proteger o meio ambiente e a biodiversidade.

Investimentos de Fundos de Pensão e o Impacto no Agrolobby

Além das instituições bancárias, os fundos de pensão e de investimento da Holanda também têm canalizado recursos significativos para o agrolobby. Treze empresas brasileiras ligadas ao IPA receberam um total de 313,69 milhões de dólares desses fundos. O principal contribuinte nesse cenário foi o PFZW, que respondeu por 64,91% do total, seguido pelo ABP com 18,67% e pelo Bedrijfstakpensioenfonds voor de Bouwnijverheid (BpfBOUW) com 3,10%.

Conclusão

A tragédia envolvendo os lobos-guarás é um chamado à ação urgente para que instituições financeiras adotem uma postura verdadeiramente responsável em relação ao meio ambiente. A desconexão entre compromisso e prática, como demonstrado pela atuação do Rabobank e outros bancos, precisa ser abordada com seriedade. A proteção do meio ambiente e da fauna brasileira depende não apenas de legislações robustas, mas também de um compromisso genuíno das instituições financeiras em financiar práticas que respeitem a biodiversidade e promovam a sustentabilidade.

 

Agrofloresta é alternativa de desenvolvimento na Amazônia

Enquanto a matéria orgânica desmatada é queimada na Amazônia para abrir espaço para a pecuária, um novo estudo revela que os sistemas agroflorestais, ou agroflorestas, podem trazer benefícios superiores nas esferas social, ambiental e econômica.

Os resultados positivos foram alcançados na Reserva Extrativista Chico Mendes, localizada em Xapuri/AC, onde o WWF-Brasil, em parceria com a Universidade Federal do Acre, EMBRAPA Acre e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre, testou dois modelos em diferentes tipos de solo. Um dos modelos teve rendimento médio anual equivalente ao da soja, enquanto o outro alcançou o dobro da lucratividade, demonstrando que é possível desenvolver a economia local, gerar empregos e melhorar a qualidade de vida com a floresta preservada.

 

Agrofloresta é alternativa de desenvolvimento na Amazônia.

 

A relação benefício-custo no SAF 01 foi de 1,6, significando que, para cada real investido, a família recebe R$ 1,60 ao final do ciclo produtivo. No SAF 02, essa relação foi ainda mais favorável, com 2,3. As taxas de retorno foram de 36,59% para o SAF 01 e impressionantes 111,2% para o SAF 02. O valor anual equivalente por hectare foi de R$ 1.949,61 no SAF 01 e de R$ 4.534,13 no SAF 02. O retorno sobre o investimento ocorre em um prazo relativamente curto, em torno de dois anos, e a rentabilidade por hectare ao longo de 20 anos é, em um dos casos, o dobro da soja, e equivalente no outro. Atualizando os valores, o lucro por hectare no SAF 01 foi de R$ 22.361,83 e de R$ 52.006,12 no SAF 02. Assim, ambos os sistemas mostraram-se não apenas viáveis técnica e financeiramente, mas também atrativos como opções de investimento. Vale ressaltar que a mão de obra representa a maior parte dos custos, indicando um grande potencial de geração de trabalho e renda, permitindo que as famílias possam se remunerar, além de incluir mulheres e jovens da zona rural.

Edegar de Oliveira Rosa, diretor de conservação e restauração do WWF-Brasil, afirma que “este estudo evidencia alternativas de desenvolvimento para a Amazônia que conciliam a produção agrícola com a preservação ambiental, semelhante às funções da floresta nativa. Além dos benefícios para o meio ambiente, esses sistemas são mais inclusivos, fortalecem a economia local e garantem a segurança alimentar. Precisamos abandonar a lógica do desmatamento para a pecuária. A floresta em pé tem um valor muito maior, e existem modelos mais eficazes para aproveitar as áreas já desmatadas.”

A restauração florestal por meio de agroflorestas representa uma alternativa importante para a inclusão social e produtiva na agricultura familiar, gerando trabalho e renda, e garantindo segurança alimentar e nutricional, ao mesmo tempo em que recupera áreas degradadas e promove a adequação ambiental das propriedades rurais conforme a legislação. Além disso, contribui para a arrecadação de impostos, oferece serviços ambientais como a captura de carbono e a conservação de água, solo e biodiversidade, beneficiando toda a sociedade. O novo Código Florestal, de 2012, permite que agricultores familiares utilizem sistemas agroflorestais para restaurar áreas de preservação permanente e de reserva legal com fins econômicos. No Acre, onde o estudo foi realizado, o Programa de Regularização Ambiental regulamenta essa restauração com objetivos econômicos nas propriedades familiares através de sistemas agroflorestais.

Fatores críticos para o sucesso das agroflorestas incluem o financiamento, já que o retorno, apesar de rápido, ocorre cerca de dois anos após os investimentos iniciais, e a assistência técnica. O fortalecimento de organizações comunitárias também é uma estratégia importante para viabilizar a adoção das agroflorestas como proposta de desenvolvimento que une inclusão social, produção diversificada e conservação dos recursos naturais.

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